Em Ibaretama, uma usina solar de R$ 22,4 bilhões
26/07/2022

Um consultor em energia diz que o megaparque solar da Fortescue terá de ofertar 2 GW firmes para a sua planta de H2V no Pecém.

Empresários cearenses que, direta ou indiretamente, atuam no setor de geração de energias renováveis, receberam com surpresa a notícia divulgada ontem, com exclusividade, por esta coluna, segundo a qual a empresa australiana Fortescue Future Industries – que prometeu ao governo do Ceará construir no Pecém uma unidade de produção de Hidrogênio Verde – vai, simultaneamente, investir na implantação de um megaparque de geração de energia solar fotovoltaico em Ibaretama, um município do Sertão Central do Estado.

Um deles, de moto próprio, tomou a iniciativa de dizer à coluna que os australianos, “provavelmente usarão 98% da energia solar que produzirão para o consumo de sua planta industrial de produção do H2V e 2% para incrementar projetos de interesse dos seus parceiros, que serão os donos das terras em que o empreendimento será instalado”.

De acordo com a mesma fonte, “pelo que diz o comunicado divulgado pelo Sindicato Rural de Ibaretama, convocando todos os proprietários rurais do município para uma reunião amanhã, sábado, às 9 horas, com o consultor da Fortescue que lhes apresentará o projeto de geração solar fotovoltaica, presume-se que será isso mesmo o que acontecerá em Ibaretama”.

Um consultor da área de energia, ouvido pela coluna, admite que a Fortescue “certamente combinará Geração Distribuída (GD) com atividade agropecuária, tirando proveito da vocação laticinista de boa parte dos proprietários rurais de Ibaretama”, onde se produzem bons queijos de coalho, bons requeijões e excelentes queijos de cabra.

Segundo o mesmo consultor, para atender a demanda da unidade industrial de produção do H2V no Pecém, o projeto australiano do megaparque de geração de energia solar fotovoltaica deverá ter, no mínimo, 2 GW firmes de potência instalada, “o que não é pouca coisa” (o consumo total de energia elétrica do Estado do Ceará é da ordem de 1,7 GW).

“Trata-se, pois, de algo superlativo que exigirá uma área de 20 mil hectares de terra, alguns milhões de placas fotovoltaicas que terão de ser importadas e 4 bilhões de euros (R$ 22,4 bilhões) de investimento. Estimo que serão gerados, na construção da usina, milhares de empregos; na sua fase de operação, várias centenas”, antecipou o consultor, que confessou desconhecer detalhes do projeto solar da Fortescue.

Ele também calcula que, na implantação da planta de produção de H2V no Pecém, a Fortescue investirá, também, no mínimo, outros 4 bilhões de euros, "provavelmente um pouco mais"..

Esta informação é reveladora da prioridade que os australianos estão emprestando ao seu projeto de construir uma indústria de produção de Hidrogênio Verde – verde porque ele será produzido com energia renovável e limpa – no Complexo do Pecém. 

As providências que a Fortescue adota em relação à geração de sua própria energia renovável integra o rol de medidas administrativas que ela está a executar para fazer cumprir o Memorando de Entendimento com o Governo do Ceará e, ainda, o pré-contrato com a CIPP S/A. 

Dos quase 20 grandes players internacionais que já celebraram Memorando com o governo cearense, é a Fortescue que tem o projeto de H2V em fase mais adiantada. 

Mas será a EDP Brasil, controlada pela EDP portuguesa, a primeira empresa a instalar uma unidade de produção do Hidrogênio Verde no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, mas em volume muito pequeno, pois se trata, na verdade, de um projeto piloto em fase de implantação ao lado de sua usina termelétrica Pecém 1 – movida a carvão mineral, um combustível altamente poluidor do meio ambiente.

No dia 21 de junho, há um mês, esta coluna divulgou que a Fortescue estudava a possibilidade de também construir suas próprias linhas de transmissão de energia (LT), um dos gargalos da infraestrutura brasileira do setor. Agora, diante da possibilidade de implantação do megaparque solar de Ibaretama, essa possibilidade cresce.

 

 

Fonte: Coluna do Egídio Serpa - Diário do Nordeste